Falar sobre economia não é um luxo reservado a especialistas. Ela está presente no dia a dia de todos nós, e entender seus mecanismos pode ser um grande diferencial para lidar melhor com os desafios do presente e do futuro. E um dos fenômenos econômicos que mais impactam a vida da população é a inflação.
Você já percebeu que, mesmo comprando os mesmos produtos no mercado, sua conta está mais alta? Ou que os preços sobem, mas seu salário continua o mesmo? A cada ida ao supermercado, ao posto de gasolina ou até na hora de pedir um delivery, tudo parece mais caro. Essa sensação não é só impressão: ela tem nome, e se chama inflação.
Nos últimos tempos, esse fenômeno tem se manifestado de diferentes formas. Além do tradicional aumento dos preços, muitos produtos estão encolhendo – o chamado shrinkflation –, onde a embalagem parece a mesma, mas a quantidade diminuiu. Você paga o mesmo (ou mais), mas leva menos para casa. Esse é um dos elementos do chamado “combo da inflação”, um conjunto de fatores que tornam a vida do brasileiro cada vez mais cara.
Mas por que isso acontece? O que o governo pode fazer? E, mais importante, como o consumidor pode se proteger?
O QUE É INFLAÇÃO E POR QUE OS PREÇOS SOBEM?
Inflação é o nome dado ao fenômeno de aumento de preços em uma dada economia. Mas a inflação não tem apenas uma causa, e entender os fatores que a impulsionam é essencial para compreender suas consequências.
Em algumas situações, a inflação é provocada pelo excesso de demanda na economia. Isso ocorre quando há muito dinheiro circulando e pouca oferta de produtos e serviços, fazendo com que os preços subam. Esse fenômeno é conhecido como inflação de demanda e costuma ser mais comum em períodos de crescimento econômico ou quando o governo injeta recursos na economia por meio de programas sociais e incentivos ao consumo.
Outra causa frequente é o aumento dos custos de produção, que acaba sendo repassado para os preços finais dos produtos. Esse tipo de inflação, chamada de inflação de custos, ocorre, por exemplo, quando há alta no preço dos combustíveis, da energia elétrica ou das matérias-primas utilizadas pela indústria e alimentos.
Além disso, há o efeito psicológico da inflação, chamado de inflação inercial. Quando consumidores e empresas esperam que os preços continuem subindo, eles começam a reajustar contratos, salários e preços de produtos automaticamente, criando um ciclo inflacionário difícil de ser interrompido.
Hoje, o Brasil enfrenta um cenário onde esses três tipos de inflação se misturam, criando um desafio ainda maior para o governo e para o bolso da população.
O "COMBO DA INFLAÇÃO" QUE ESTAMOS VIVENDO
A inflação no Brasil não tem se manifestado apenas no aumento direto dos preços, mas de formas mais sutis e variadas. Uma delas é a redução invisível das embalagens, prática em que empresas diminuem a quantidade de produto sem alterar o preço, tornando a alta dos custos menos perceptível para o consumidor.
Outro fator é o efeito cascata dos reajustes, no qual o aumento em um setor acaba pressionando os preços de diversos outros produtos e serviços. O encarecimento dos combustíveis, por exemplo, eleva o custo do transporte e da logística, impactando diretamente o valor dos alimentos e outros bens de consumo.
Além disso, há setores da economia nos quais a inflação se mantém persistente, mesmo quando outras áreas já mostram sinais de desaceleração. Essa inflação resistente pode ser explicada por fatores como reajustes automáticos em contratos e serviços, variações cambiais e políticas de preços administradas pelo governo, como ocorre com energia elétrica e combustíveis.
COMO A INFLAÇÃO AFETA O DIA A DIA DA POPULAÇÃO
Os efeitos da inflação vão muito além do aumento no preço dos alimentos e impactam diretamente a vida financeira da população. O primeiro e mais evidente impacto é a perda do poder de compra dos salários. Se os preços sobem mais rápido do que os reajustes salariais, o dinheiro das famílias passa a valer menos, reduzindo a capacidade de consumo.
Outro efeito significativo é o encarecimento do crédito. Para conter a inflação, o Banco Central costuma aumentar a taxa de juros, tornando empréstimos, financiamentos e compras parceladas mais caros. Isso dificulta o acesso ao crédito para famílias e empresas, desestimulando o consumo e os investimentos.
Além disso, a inflação prolongada pode levar a um ciclo de diminuição do crescimento econômico. Com o poder de compra reduzido e os custos em alta, empresas passam a vender menos, o que pode resultar em cortes de gastos, demissões e um desaquecimento da economia como um todo.
QUE O GOVERNO PODE (OU NÃO) FAZER?
O controle da inflação é um dos principais desafios das autoridades econômicas. O Banco Central, responsável pela política monetária do país, utiliza a taxa Selic como principal ferramenta para tentar conter a alta dos preços. Quando a inflação está elevada, a estratégia mais comum é aumentar os juros, encarecendo o crédito e desestimulando o consumo. No entanto, essa medida tem efeitos colaterais: ao reduzir a atividade econômica, ela pode frear o crescimento e aumentar o desemprego.
Além da política monetária, o governo pode atuar por meio da política fiscal, que envolve os gastos e arrecadação do setor público. Quando há um aumento excessivo nos gastos governamentais sem uma fonte sustentável de receita, isso pode pressionar ainda mais a inflação. Medidas como cortes de gastos e controle do endividamento público ajudam a reduzir essa pressão, mas podem gerar impacto negativo em investimentos sociais e em infraestrutura.
Outra estratégia utilizada em momentos de inflação alta é a redução de impostos sobre produtos essenciais, como alimentos e combustíveis. Essa medida pode aliviar momentaneamente o bolso do consumidor, mas se for mantida por muito tempo sem compensação na arrecadação, pode prejudicar as contas públicas.
Não há solução simples para a inflação. O desafio do governo é equilibrar o controle dos preços sem comprometer o crescimento econômico e a geração de empregos, sem jogar para a população a obrigação, única, de realinhar os preços por meio de novas escolhas para produtos substitutos aos mais caros.
COMO O CONSUMIDOR PODE SE PROTEGER DA INFLAÇÃO?
Embora a inflação seja um fenômeno macroeconômico, existem algumas estratégias que podem ajudar a minimizar seus impactos no orçamento pessoal.
A primeira delas é o planejamento financeiro. Criar uma reserva de emergência, evitar compras por impulso e cortar gastos desnecessários são passos essenciais para lidar com períodos de alta nos preços.
A pesquisa de preços também se torna ainda mais importante em momentos inflacionários. Comparar valores entre diferentes estabelecimentos e buscar alternativas mais econômicas pode gerar economias significativas.
Outra forma de proteção é a diversificação de investimentos. Aplicações financeiras atreladas à inflação, como o Tesouro IPCA+, ajudam a preservar o poder de compra ao longo do tempo.
Além disso, é fundamental ter cautela com o uso do crédito. Com juros elevados, financiamentos e parcelamentos podem rapidamente se tornar um peso no orçamento, tornando o endividamento ainda mais difícil de ser controlado.
A inflação é um fenômeno econômico que afeta diretamente a vida da população, reduzindo o poder de compra, encarecendo o crédito e dificultando o planejamento financeiro. Compreender suas causas e impactos é o primeiro passo para tomar decisões mais conscientes e mitigar seus efeitos.
Embora o governo tenha ferramentas para controlar a inflação, as soluções nem sempre são simples e podem envolver sacrifícios para diferentes setores da sociedade.
COLUNISTA: DIEGO JOVINO LUDUVÉRIO – Perito economista bacharel em Ciências Econômicas pela Universidade Estadual de Londrina (UEL);
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