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Folha Regional Online

Quinta-feira, 22 de Maio de 2025

Geral

O Cristão e a igreja como trampolim para a política

O assunto se renova a cada eleição que se aproxima

Ely Damasceno
Por Ely Damasceno
O Cristão e a igreja como trampolim para a política
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    Já abordei aqui várias vezes ao longo dos anos e não mudo de opinião com relação ao uso indiscriminado da fé com interesses políticos. O Cristão vota? É claro que vota, até porque faz parte da formação do cidadão na sociedade e praticamente uma obrigação cívica. Mas deste ponto até usar a igreja como palanque para fazer política, tenho minhas restrições por formação e por convicção.

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E percebo que a cada eleição que se aproxima, dá uma coceira em uns e outros que dizem ter chamado para a "Obra de Deus", mas se sentem tentado a executar a "Obras de Homens", vislumbrando uma cadeira na chefia do Executivo. Na minha ótica, praticante de religião e politica ao mesmo tempo não combina. Já tivemos exemplos no passado onde pastor foi conivente em mudança de Lei para ser favorecido em cargo de confiança porque apoiou através da igreja um determinado candidato a prefeito.

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A mistura, religião/política durante a campanha eleitoral, é péssima tanto para a fé evangélica quanto para a qualidade do debate. Os interesses pessoais geralmente se sobrepõem aos interesses da igreja e da sociedade, quando ambos deveriam centrar-se em projetos para debater e resolver os problemas sociais como o mais grave, que é a desigualdade econômica e a corrupção no poder público.

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Tem gente que chega a largar a batina para se deleitar nas beneces que as estratégicas políticas proporcionam sem nenhuma parcimônia ou compromisso com a fé. A partir do momento em que colocam Deus e o Diabo como tema de campanha eleitoral, como vimos na disputa presidencial os assuntos que realmente importam tornam-se secundários, quando não invisibilizados. É claro que a fé, seja ela cristã ou não, tem uma dimensão política. No entanto, esta dimensão tem relação com a coletividade, com o bem comum. Igreja não é partido político e nem deve ser.

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Nem pastor que se preze, deve trocar a bíblia pelo manual do bom político. A simbiose entre igrejas e partidos políticos precisa ser considerada apenas como uma ferramenta de reforma do atual sistema político. Para mudar a política, não se faz necessariamente, um pastor sair candidato  ou fazer de sua igreja, palanque eleitoral para eleger este ou aquele cidadão. O poder de influência é uma faca de dois fios.

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Posicionamento apolítico, na verdade não existe até porque não há nenhuma sociedade ou vida comunitária que não seja política. Entretanto, o uso da religião para disputa de poder eleitoral é extremamente prejudicial para a fé e uma manipulação da boa-fé do povo, porque esse uso entra numa guerra que não lhe pertence, leva as pessoas a cometerem perversidades em nome de defender um candidato específico e muitos se perdem do caminho, abandonando verdades que abraçaram quando adotaram a fé cristã.

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É o Cristão votando em ladrão de colarinho branco, em político corrupto de carreira e por vezes comandado pela influência daquele pastor que negocia cargo que não pode ocupar, ou que ocupa cargo que não consegue atuar. Fica feito um "bozo" perdido no meio da sociedade fazendo de conta que está contribuindo e a população fazendo conta que acredita. É para isso que serve os chamados "Conselhos".

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Uma das coisas que para mim demonstra que uma significativa parcela do povo evangélico está perdida vem da constatação de que aqueles que defendem valores universais, como o Direito à Vida e a liberdade dos oprimidos, não têm sido vistos como defensores do bem comum e de valores universais.

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Ao contrário, são tidos como defensores de algum partido político ou espectro político-partidário, e algumas vezes tomados como cabos eleitorais de determinado candidato. Isso é um verdadeiro desvio da fé. Veja: não é a religião em si, mas um desvio dela, que na fé é chamado de adultério espiritual. Uma expressão bíblica usada para denunciar o abandono do povo da vida de amor a Deus e ao próximo para se unir aos dominadores do mundo, cujos valores se opõem a essa verdade de que, nas relações, o amor deve estar acima de tudo.

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Quando terminei meu mestrado em Teologia e Filosofia, tinha dois caminhos. O seria pastor, ou seria jornalista minha primeira opção. Ser teólogo não faz do cidadão um pastor, embora se prepare para isso. É preciso ter chamado.  E hoje igrejas funcionam como empresas para faturamento, cujos líderes são doutrinados para pedir dinheiro e vender toda a espécie de quinquilharia aos fiéis. Não era esta minha vocação, mas aliar a escola do jornalismo com o conhecimento teológico nos demostrou que a vocação seria "doutrinar" através da escrita. Por isso escrevo, e não estou num púlpito.  Não seria mais um pastor de faz de conta!

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Isto talvez explique minha indignação com o uso indiscriminado da fé e a manipulação da igreja.  Não há nada mais perigoso para as conquistas civilizatórias do que essa maligna mistura do evangelho com o poder político.  Aliás a história relata e pela fé, cremos que o próprio Deus permitiu que Jesus fosse morto por motivos políticos, para mostrar a sociedade o perigo que estamos expostos quando a religião é dominada pela política. Isto fez com que os doutores da Lei Judaica, entregasse Cristo ao governo Romano não entendendo a real mensagem sobre seu verdadeiro reino. O que estava para se cumprir, poderia ser de forma diferente, mas o exemplo era necessário. Não vê quem não quer.

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Um líder espiritual tem o direito de não abrir ou abrir o seu voto, mas jamais de impor o seu voto ou de manipular os seus seguidores para em nome do seu Deus votarem em quem ele vota. Enquanto cristãos, o que nos define é o modelo de reino ensinado por Jesus, que em nenhum momento estabeleceu um sistema político, embora tenha sido tentado a receber o poder e a glória das nações.

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Ele enfatizou que o reino de Deus não era "desse mundo". Essa posição não isenta o cristão de agir ou ser a favor de ações que visem mitigar o sofrimento e a opressão causada pelo poder constituído, mas demonstra que deve existir uma distinção entre o reino dos homens e o Reino de Deus. Aliás, quando perguntado se era o Messias, Jesus respondeu com ações praticadas por ele que eram justamente a libertação de marginalizados e esquecidos pela sociedade: "os cegos veem, os coxos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados, e aos pobres é pregado o evangelho." (Mateus 11:5).

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O flerte com o poder político constituído sempre afastou os cristãos dos verdadeiros valores do reino de Deus e os aproximou da violência e da soberba. E há quem veja nesta "fragilidade" de alguns, uma oportunidade de tirar proveito. Nada contra, mas só para ilustrar, a sociedade nos dias de hoje, vive de massagem no ego. Não à toa, o cidadão compra um jantar a peso de ouro para receber o título de otário do ano para encher seu ego. E outros aceitam a massagem recebendo títulos de reconhecimento curiosamente à véspera de eleição.

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Não que seja contra, o evento ou cidadãos homenageados, mas estou usando estes exemplos para ilustrar que o flerte político existe e é usado em situações como esta. Mas acredito que quem se dispõe a isto acaba por negar valores essenciais. O cristão consciente de quem foi e é Jesus Cristo se opõe, veementemente, ao uso da religião na política. E há aqueles que entram na fila para massagem do ego. E outros que não são lembrados, fazem beicinho! Conselhos são como Sindicatos. No fundo não servem para nada que se tire proveito!

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Portanto, a mistura entre pastor e politico é uma receita que não dá certo. "Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou há de odiar um e amar o outro ou se dedicará a um e desprezará o outro", escreveu Mateus (6:24). O sequestro da fé e seu uso como instrumento de poder pela esfera política precisa acabar.

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Essa "mistura de religião evangélica e política" é uma mistura perigosa que cobrará o seu preço e, sobretudo, essa mistura representa uma blasfêmia contra o Evangelho de Jesus Cristo. Entendo que a missão da igreja é ser representante e sinalizadora do Reino de Deus na terra. A igreja não é uma agremiação política partidária e, em hipótese alguma, pode se tornar fiadora de qualquer candidato, partido ou ideologia política.

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Agora, é bem verdade que é importante o posicionamento da igreja, mas esse posicionamento precisa ser a partir de uma consciência política que busca promover o bem e a justiça. Mas nunca militância política partidária como tem acontecido em larga escala a ponto de inviabilizar o papel da própria igreja como embaixadora do Reino de Deus. O movimento evangélico precisa entender que a bandeira da igreja é o Evangelho de Jesus Cristo, e não partidos ou qualquer lado político. Lugar de pastor, não é em palanque de corrupto.

FONTE/CRÉDITOS: Folha Portal/Ely Damasceno
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Ely Damasceno

Publicado por:

Ely Damasceno

Bacharel em Teologia Theological University of Massachussets USA 1984/1990. Jornalismo pela Faculdade de Tecnologia de São Paulo. Repórter Gaz.Esportiva, Diários Associados, Estadão/SP, Jornais Dayle Post, em Boston-USA e Int.Press Hyogo-Japão

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