O voto feminino no Brasil foi reconhecido em 1932 e incorporado à Constituição de 1934, mas era facultativo. Em 1965, tornou-se obrigatório, sendo equiparado aos homens. Há 92 anos, as mulheres conquistaram o direito ao voto no país. Hoje, representam 52% do eleitorado. Esperaram quase um século para poder votar e, quando chegam as eleições, cadê o voto delas?
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Em Ibiporã, com pelo menos três candidatas por partido, cerca de 30, nenhuma foi eleita. Então cabe a pergunta, prá que voto feminino?
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Antigamente a gente até entendia que era um problema de machismo porque as mulheres casadas precisavam de autorização dos maridos para votar. E hoje que as mulheres estão em igualdade de condições, ou melhor... superior ainda dado a vantagem numérica da população, nos deparamos com a ausência de sua representatividade.
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Antes para conservar as mulheres afastadas das urnas e do poder, os senadores e deputados adversários do voto feminino recorriam a argumentos preconceituosos e depreciativos. Segundo esse grupo da Constituinte, elas precisavam continuar restritas às quatro paredes do lar porque, caso os homens perdessem o domínio sobre elas, o país sofreria uma convulsão social.
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E o fenômeno ocorrido em Ibiporã, chama-nos atenção para este detalhe. Será que a cidade está sofrendo uma convulsão social? Será possível que mulheres cultas como Neusa Sá, Carolina Sacca, Angela Garcia, Vilma Krol entre outras (só exemplificando sem menosprezar as demais), não eram dignas do voto feminino?
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Onde estão as feministas de plantão? Será que a chamada Lei, que previa três vagas para cada partido com dez, teve como objetivo somente restringir a disputa entre os homens, cuja ausência do voto em mulher somente os favorecem? Presidentes de partidos correm como loucos atrás de candidatas para "fechar a chapa" e o que acontece? Não recebem votos...simples assim!
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Em tom poético, o deputado Serzedelo Correa (PA) afirmou:
— A mulher, pela delicadeza dos afetos, pela sublimidade dos sentimentos e pela superioridade do amor, é destinada a ser o anjo tutelar da família, a educadora do coração e o apoio moral mais sólido do próprio homem. Jogá-la no meio das paixões e das lutas políticas é tirar-lhe essa santidade que é a sua força, essa delicadeza que é a sua graça, esse recato que é o seu segredo. É destruir, é desorganizar a família. A questão é de estabilidade social.
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Vejam bem, parece que o desaforo colocado em verso e proza do deputado caiu como uma luva em Ibiporã. Mulher não votou em mulher por mais que se fez campanha a favor disso. O sentimento das candidatas é de decepção e tristeza ao mesmo tempo. O resultado das urnas dá a entender que as próprias mulheres não estão interessadas no direito de serem representadas.
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Percebe-se que em nossa cidade, o papel da mulher na política é irrelevante. Até mesmo para quem ocupa o cargo de vice-prefeita, pessoa meramente figurativa e aparentemente sem influência, na condição de inércia num cenário onde ainda impera a liderança masculina. Está escrito nas entrelinhas que quase ninguém lê. Se lê, faz de conta que não entende.
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O que aconteceu com a presidente da Câmara é outro exemplo. Sua única chance de reeleição estava em seu projeto dos sonhos que não saiu do papel. Ao tentar se impor no uso do cargo, sucumbiu ao sistema e perdeu a confiança do eleitor e os votos. Virar as costas a quem a elegeu também contribuiu para o fracasso.
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Ibiporã volta cem por cento ao domínio masculino. Nova oportunidade só daqui a quatro anos e dois meses. Enquanto isso, nossas competentes candidatas voltam a praticar sua autonomia e a liberdade em toda a plenitude, como professora, profissional liberal, empresária e porque não também ser dona de casa, arrumar móveis, enfeitar-se, fazer o footing [passear a pé], andar pelas lojas, academias, dançar, ouvir música, ir a missa e outras coisas dessa natureza. Parabéns Ibiporã, conseguiu retroceder em nove horas, noventa e dois anos.
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A culpa é de Pablo Marçal que declarou a CNN Brasil: "Mulher não vota em mulher! Mulher é inteligente..."
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