Depois de enfrentar uma maratona de desgaste político, atribuído a uma perseguição sem sentido simplesmente pelo fato de exercer seu papel na sociedade como representante do povo, outorgado pelo voto, a vereadora Marli de Fátima Ribeiro, ou Mara Boca Aberta como é conhecida, não obstante ser expulsa do partido e ter as portas fechadas pela maioria, continua enfrentando novos desafios.
Duramente perseguida por um sistema machista, autoritário, intolerante e discriminador não só por levar o rótulo "Boca Aberta" mas pela condição de ser a única mulher a bater de frente com o sistema, a candidata do PMD enfrenta outro grande desafio.
Com uma candidatura esvaziada financeiramente, sem apoio político e excluída de eventos e reuniões quando não alijada de qualquer informação relativa ao pleito eleitoral deste ano, Mara Boca Aberta à exemplo do que ocorre na terra dos coronéis enfrenta em Londrina uma realidade brasileira que só contribui para o distanciamento da mulher e de sua representatividade política. Isto porque quando seu trabalho encontra reconhecimento da sociedade, torna-se uma ameaça que se sobressai sobre os demais descompromissados com a causa comum visando unicamente seus conchavos ou interesses políticos partidários.
Atuações de mulheres como Mara Boca Aberta, que conquistam espaço político com o seu trabalho diante de uma sociedade ainda politicamente podre, hipócrita e porque não dizer corrupta, além disso ainda precisam lidar com a violência política de gênero. A mulher determinada é uma bomba relógio que aciona uma luz vermelha que apavora o sistema. E, numa sociedade machista onde a sujeira escorre pelos bastidores a ponto de abrigar-se em coletes, meias e até cuecas recheadas de dólares, só tende a enfrentar resistência.
Notadamente como vimos em dias passados, as portas fechadas para Mara Boca Aberta disputar mais uma eleição, contraria toda a lógica. Quem não gostaria de ter uma candidata com grande potencial de votos? E quem gostaria de ter uma companheira eleita cujo mandato se sobressai aos demais cuecas aliados do sistema? Logo passa a ser uma pedra no sapato cujos partidos preferem as candidata submissas, manipuláveis e que se acomodem naqueles 30% somente para preencher requisitos da legislação.
O papel da mulher dinâmica na política ainda é um debate muito complexo. Há pesquisa que mostra que nenhum partido cumpre ou aplica o fortalecimento de candidaturas de mulheres. É fruto da sociedade patriarcal essa resistência. O incentivo dos partidos é muito pequeno. Há uma resistência interna coletiva e generalizada independente da bandeira que defendem.
Mara Boca Aberta se vê hoje diante de um desafio gigantesco cuja responsabilidade é fazer legenda sozinha e alcançar a meta de mais de 15 mil votos para se eleger. E isto não é ficção, é realidade imposta pelo sistema que não a quer de volta. Ações repulsivas como a que foi exposta a vereadora londrinense demonstra o machismo e a resistência às candidaturas femininas. Fator este que desencorajam a participação delas na vida política do país. De que adianta a política de cotas, criada como forma de corrigir a sub-representatividade de gênero e aumentar a quantidade de mulheres candidatas, quando são perseguidas ao limite de suas forças físicas e psicológicas?
Do que vimos ocorrer em Londrina, vislumbramos um quadro eleitoral de violência política de gênero, pois prejudica o exercício de direitos políticos e cidadania, manchando a democracia. O Brasil está entre os países com menor representação feminina na política, ocupando a 142ª posição entre 191 nações citadas no mapa global de mulheres na política da Organização das Nações Unidas (ONU). Mesmo sendo maioria (53%) entre os 150 milhões de eleitores, elas são minoria nos cargos representativos e nas eleições proporcionais para as casas legislativas (Câmara, Senado, Assembleias estaduais e Câmaras municipais).
Mara Boca Aberta não representa somente um percentual para completar chapa mas um símbolo de resistência sonhado desde a promulgação da Constituição de 1988, quando o país vive sob um "regime democrático", no qual um cidadão eleito pelo povo para representar e fazer valer seus direitos, passa a ser perseguido. Mara Boca Aberta não é apenas uma minoria que incomoda, mas sua atuação faz referência a números de grande contribuição, social, jurídico e econômico reconhecido por muitos eleitores e cidadãos esclarecidos.
Lutar contra a corrupção, a discriminação e os outros seguimentos ligados às mulheres como violência doméstica, sexual, salário diferenciado, discriminação no quesito idade e na questão da maternidade, não é apenas uma bandeira política da candidata a vereadora Mara Boca Aberta, mas convicções acima de tudo como ser humano, advindos de sua origem simples, mas rica na educação de berço. Valores estes que a maioria da prole que a persegue jamais experimentará. Que dirá poder entender. Neste contexto de desigualdade na política, onde quem se considera melhor oprime, agride e até mesmo busca eliminar os grupos considerados inferiores. E é nessa luta que Mara Boca Aberta se predispõe a enfrentar no pleito do próximo 6 de outubro, contando com seu voto.
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