A Secretaria de Estado de Segurança Pública do Paraná (Sesp-PR) informou nesta segunda-feira (10), em publicação no Diário Oficial, que concluiu a sindicância sobre um suposto esquema de propina envolvendo um dos maiores traficantes do Brasil e a cúpula do Departamento de Polícia Penal do Estado do Paraná (Deppen-PR).
As conclusões da apuração não foram divulgadas pela secretaria. A publicação afirma apenas que o resultado da sindicância deve ser enviado às diretorias da Polícia Penal e da Polícia Civil e ainda ao Ministério Público do Paraná (MP-PR) para aprovação e providências. Agora, os comandos das polícias devem abrir procedimentos próprios para apurara a atuação de todos os servidores envolvidos. O Ministério Público disse, em nota, que também vai analisar o resultado da apuração.
A sindicância foi aberta depois que vieram à tona relatórios de inteligência produzidos dentro da Casa de Custódia de São José dos Pinhais, entre abril e maio de 2022. A apuração da secretaria foi aberta com o objetivo de esclarecer que providências foram tomadas diante do conteúdo de um documento que aponta o suposto envolvimento entre o traficante de drogas Marcos Silas e integrantes da cúpula do Departamento Penitenciário, hoje Departamento de Polícia Penal, entre eles o ex-diretor do Deppen Francisco Caricati.
O documento teve como base o relato de um informante de dentro da cadeia. A reportagem teve acesso aos depoimentos e a outros documentos que fazem parte da investigação. De acordo com o informante, "o Sr caricate" teria recebido R$ 1 milhão para alocar Marcos Silas em um bloco em que seria mais fácil a contravenção - um celular - e que o traficante teria pago mais R$ 500 mil para não assinar a transferência para uma penitenciária federal.
Francisco Alberto Caricati foi diretor do Deppen de 2018 a 2022. Antes, foi delegado e passou por diversas divisões da Polícia Civil, como Delegacia de Furtos e Roubos, Núcleo de Repressão a Crimes Econômicos e Departamento de Inteligência do Estado. Hoje, Caricati é diretor de Justiça na Secretaria de Justiça e Cidadania do Estado do Paraná. A sindicância ouviu pelo menos dez pessoas, entre servidores, policiais penais e funcionários terceirizados. Também foram ouvidos alguns dos atuais integrantes cúpula de Departamento de Polícia Penal do Estado, inclusive o atual diretor-geral, Reginaldo Peixoto.
À sindicância, Peixoto disse que desconhecia o teor do documento que cita o suposto envolvimento de Caricati com o traficante e que, diante da repercussão do caso, iniciou "levantamentos preliminares" e verificou que o relatório foi produzido por um servidor terceirizado junto com o chefe de segurança. Na época, os dois trabalhavam na Casa de Custódia de São José dos Pinhais. O atual diretor relatou também que verificou com a Corregedoria do Deppen se na época houve alguma apuração sobre os fatos que estavam no relatório, e foi informado que não.
Nesta segunda, a reportagem questionou o atual diretor sobre a sindicância e Peixoto disse que não teve acesso aos documentos e que, por isso, não vai se manifestar no momento. O funcionário terceirizado também foi ouvido pela sindicância e disse que elaborou o documento porque "qualquer informação que pudesse envolver corrupção ou crime era elaborado um relatório de inteligência". Ele também afirmou que Marcos Silas teria lhe dito que teria comprado a cadeia com pagamento de advogados, compra de "sacolas".
Na gíria dos presídios, sacolas é como detentos se referem à alimentação e produtos de higiene e limpeza que chegam aos presos. Também nesta segunda, a defesa de Caricati convocou uma entrevista coletiva para tratar do caso e voltou a dizer que que o ex-diretor do Deppen não tem qualquer envolvimento com o traficante Marcos Silas e que o relatório é apócrifo e foi feito para prejudicar o delegado. Os advogados afirmam que Caricati nunca teve envolvimento com qualquer situação ilícita, mas que o nome dele pode ter sido usado.
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