Na era dos aplicativos de relacionamento, o famoso “match” se tornou uma espécie de selo de validação instantânea. Basta deslizar para o lado certo e, com sorte, surge uma combinação: “É um match!” A notificação que antes poderia significar o início de uma história de amor, hoje levanta dúvidas importantes — será que estamos realmente buscando conexões reais ou apenas alimentando o próprio ego?
Do flerte digital à superficialidade emocional
Os aplicativos vieram para facilitar os encontros, quebrar barreiras geográficas e ampliar as possibilidades. No entanto, o excesso de opções e a dinâmica gamificada — onde cada perfil é como uma carta de baralho — pode transformar a busca por um parceiro em uma disputa de atenção, onde a prioridade deixa de ser a conexão emocional e passa a ser a aprovação constante.
O match, nesse cenário, tornou-se muitas vezes mais sobre se sentir desejado do que sobre desejar de fato alguém. A frase “dei match com várias pessoas” passou a ser dita com certo orgulho, como se a quantidade validasse o próprio valor pessoal. É como se cada match fosse um “like” ao vivo, um aplauso digital que massageia o ego, mas pouco nutre a alma.
O ego inflado como armadilha relacional
Receber muitos matches pode trazer uma sensação momentânea de poder, autoestima elevada e atratividade. Mas também pode gerar um efeito colateral: a ilusão de que o próximo será sempre melhor. Isso dificulta a construção de laços duradouros, porque muitos acabam pulando de conexão em conexão, sem aprofundar nenhuma. Afinal, por que investir em uma conversa que exige esforço emocional quando há dezenas de outras em potencial com apenas alguns cliques?
Essa dinâmica alimenta o desapego e torna relacionamentos mais descartáveis. É o famoso “ghosting”, quando a pessoa simplesmente some após algumas trocas de mensagens — algo que se tornou banalizado e comum. O match, portanto, vira apenas um símbolo de conquista momentânea, não o início de um vínculo.
Relacionamentos líquidos e vínculos frágeis
O sociólogo Zygmunt Bauman já dizia que vivemos tempos de “relacionamentos líquidos”, frágeis, imediatistas, que se desfazem diante do primeiro sinal de desconforto. Aplicativos de namoro, ao mesmo tempo que aproximam pessoas, também intensificam essa liquidez. O match dá a ilusão de conexão, mas nem sempre se traduz em interesse real, respeito mútuo ou intenção de construir algo concreto.
É como se estivéssemos mais preocupados com a sensação de sermos escolhidos do que em, de fato, escolher alguém com profundidade. Muitos perfis são julgados por segundos, com base em uma ou duas fotos, uma descrição superficial e emojis. A compatibilidade emocional ou valores compartilhados se tornam secundários.
Ainda é possível transformar um match em relacionamento verdadeiro?
Sim, é possível. Há muitos casos de casais que se conheceram por meio de apps e construíram relações duradouras. Mas isso exige consciência, intenção clara e maturidade emocional. É preciso ir além da estética do perfil, aprofundar as conversas, encarar o outro como ser humano — não como um avatar.
A chave está em como usamos as ferramentas. O problema não é o aplicativo em si, mas a forma como nos relacionamos com ele. Se o match virou apenas um meio de inflar o ego e preencher carências momentâneas, o vazio tende a persistir. Mas se usado com honestidade e autenticidade, pode ser o ponto de partida para algo significativo. agenda31
Conclusão: o que você realmente busca com um match?
É hora de refletir: você quer um relacionamento real ou só se sentir desejado? Está disposto a conhecer alguém de verdade ou apenas quer colecionar interações superficiais? O match não deveria ser o fim em si mesmo, mas o início de algo maior. E, para isso, é necessário desacelerar, ouvir, observar e se permitir ir além das aparências.
No fim das contas, o valor de um relacionamento está na profundidade da conexão, e não na quantidade de matches acumulados. Afinal, likes alimentam o ego. Mas é a reciprocidade que alimenta o coração.
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