A questão da semana nas redes sociais tem sido a discussão sobre a segurança de alunos em ambiente escolar. Até aqui estivemos acompanhando, e o que temos percebido é que o assunto virou modinha para uns e outros tirarem proveito politico e se aparecer. É muito barulho, para nenhuma solução, mas a opinião do “senhor resolve tudo” está lá. Até aqui evitei falar no assunto, tal qual a ex-secretária de Educação, professora Margareth Colonizei que, em anos militando na profissão, também não se conteve diante de um quadro desenhado pelas “fake news”e manifestou-se num grupo de WhattsApp.
É fato que o problema precisa ser discutido, mas criou-se um quadro de histeria coletiva, que praticamente encurralou as autoridades num beco sem saída e sem um “plano B” para colocar em ação. Os incidentes envolvendo facas e similares entre estudantes nos últimos dias indicam que há um efeito bola de neve do ataque perpetrado por um jovem de 13 anos que matou uma professora na escola estadual Thomazia Montoro, na capital paulista, no dia 27 de março. O número de escolas atingidas, contudo, é ínfimo se comparado ao universo das instituições de ensino do país. O que mostra que estamos vivendo, na verdade, uma crise de medo ou síndrome de pânico.
Mães em reunião no gabinete do prefeito (Crédito: Reprodução/JCampos Notícias)
Esse medo surge de forma natural diante das “fake news” que rolam pelas redes sociais induzido por criminosos que aproveitam o ambiente de pânico e bombam boatos de que massacres estão agendados tanto para o dia 20 de abril (aniversário da chacina em Columbine, nos Estados Unidos, e nascimento de Adolf Hitler), quanto para datas aleatórias já nesta semana, fazendo com que estudantes não queiram ir às aulas. Não fosse isso, os alunos de hoje que sequer conhecem história, jamais teriam conhecimento destes fatos.
Nesse contexto, cada um de nós pode piorar a situação, compartilhando informações sem checagem, como ameaças de massacres, ou ajudar a conter o contágio. Já fui professor e estou em Ibiporã desde 1994 e nunca presenciei aqui, no nosso sistema de educação, algo de relevância ou de cunho criminal das escolas do município. Com exceção de pequenos incidentes (entre aluno e professor) e um acidente que tirou a vida de uma criança no CAIC, (afogado) nunca houve nada com gravidade. Mesmo em tempos remotos quando o bairro e a escola era discriminada por estar na periferia e numa região apontada como “perigosa”.
Hoje, os professores e servidores dos estabelecimentos de ensino como bem disse o prefeito José Maria em entrevista, recebem orientação e vão receber treinamento, além da contratação de pessoal capacitado para apoio (já foi licitada uma empresa) onde o município está investindo R$ 3 milhões em 60 novos colaboradores de apoio aos CMEIS e Escolas Municipais. E isto não está ocorrendo só em Ibiporã. Professores estão recebendo recomendações das direções das escolas para tranquilizar estudantes e reafirmar que elas são seguras e continuarão funcionando normalmente - incluindo universidades privadas como UEL-UFFPR -PUC-SP, ESPM, UNIP, FGV, entre outras.
Ao mesmo tempo, veículos de imprensa responsáveis não estão dando notoriedade aos agressores, mas esclarecendo que boatos são falsos e que uma sociedade não pode parar por medo. Medo que, não raro, não é só dos ataques, mas de muita coisa acumulada desde a pandemia. Essa tarefa se assemelha a tirar água de um barco furado porque, enquanto ações são tomadas para diminuir a pressão, redes sociais estão sendo usadas para mitificar agressores, induzir estudantes a replicar esses atos e difundir boatos sobre massacres etc.
O ódio e a intolerância têm origem multifatorial, mas as plataformas e alguns repórteres do chamado “mundo cão” geralmente de programas policiais, tiram proveito da situação para “garantir audiência”, quando poderiam ajudar freando esse tipo de conteúdo. Infelizmente, isso não vem acontecendo na velocidade necessária.
Ontem o prefeito José Maria recebeu uma comissão de mães, que demonstram preocupação com os filhos no ambiente escolar. A curiosidade é que mães que nunca foram vistas levando os filhos na escola, (geralmente é a vizinha que leva) encontrou tempo até para engrossaram a fila em grupo nas redes sociais. Mas não vem ao caso, é só uma observação. É natural que a situação exigiu preocupação.
Como relatou o prefeito, são cerca de 6.500 alunos na rede de educação e cerca de 2.300 crianças nos CMEIS e o município preocupa-se com a integridade dos alunos sob a responsabilidade do município. Como relatou, nesse universo de alunos é evidente que alguns problemas de comportamento entre os próprios alunos, ou encontrar algum tipo de objeto na mochila “que os alunos trazem de casa”, é passivo de acontecer. Mas nada que se provoque uma situação de comoção, embora exista uma preocupação muito grande com a segurança. “Passar o mês inteiro com a responsabilidade de cuidar destas 2300 crianças na educação infantil sem passar por nada grave, é uma bênção de Deus”, disse o prefeito. Exemplificou que é as crianças até mesmo em casa sob o cuidados dos pais ou avós, estão sujeitos a pequenos acidentes, quebrando um dente numa queda ou até mesmo um dedo. “Vamos qualificar mais ainda nossos servidores. Ao constatar qualquer situação de anormalidade eles possam interagir pela segurança”, disse. "Pelo menos quatro unidades escolares receberão cuidados e equipamentos que proporcionem mais segurança e uma dessas é a escola é a Nelson Sperandio", relatou José Maria. Como medida de controle de acesso as escolas o prefeito exemplificou a construção de uma espécie de gaiola (como na entrada de condomínios) onde a pessoa precise passar por dois portões, ser identificado (pessoa e motivos) para que possa adentrar a escola. Algumas mães mais exaltadas reclamaram sobre a promessa de policiamento nas escolas, o que não estaria acontecendo com a devida frequência e criticaram o prefeito nas redes sociais.
O pânico é gerado pelos casos recentes que ganharam as mídias
Enquanto o medo contagia estudantes e os pais, as mídias sociais e os programas irresponsáveis que exploram o assunto ao máximo acabam por incentivar os crimes dando notoriedade aos marginais. Exemplo disso, nesta terça feira (11), um aluno também de 13 anos esfaqueou três colegas em uma escola em Santa Tereza de Goiás (GO). Os jovens não correm risco de vida e o rapaz foi apreendido.
No dia 28 de março, um dia após o ataque na Thomazia Montoro, um estudante de 15 anos tentou atacar colegas com uma faca na escola municipal Manoel Cícero, na Gávea, Zona Sul do Rio. Ele foi contido por funcionários e ninguém se feriu, além do próprio agressor.
No caso mais grave, um homem invadiu a creche Cantinho do Bom Pastor, em Blumenau (SC), matando quatro crianças de 4 a 7 anos, e ferindo outras cinco, com uma machadinha, em 5 de abril. No mesmo dia, um aluno de 12 anos foi levado à delegacia após ser flagrado com um canivete e uma máscara de palhaço na escola Primo Pascoli Melaré, no Jardim Peri, Zona Norte de São Paulo. Ele havia ameaçado uma professora.
Um aluno de 12 anos do Colégio Adventista do Amazonas, em Manaus (AM), atacou colegas com facas e um coquetel molotov nesta segunda (10). Ele machucou duas estudantes e uma professora de forma superficial. Na mesma segunda, um adolescente de 14 anos entrou mascarado em uma escola, em Perus, zona norte de São Paulo, com facas e uma arma falsa. Ele é estudante do local e foi detido pelos professores antes de alguém se ferir. Também nesta segunda, quatro adolescentes de 12 a 14 anos com facas e canivetes foram apreendidos pela Polícia Militar na escola municipal Wilson Hedy Molinari em Poços de Caldas (MG). Os jovens deram a justificativa que queriam se defender de um “massacre” que pudesse acontecer.
Ataques como esses aumentam a sensação de insegurança em escolas e adubam o terreno para ameaças que levam pânico à comunidade. Boatos com ameaças e promessas de massacres vêm sendo registrados em Minas Gerais, Pernambuco, Mato Grosso do Sul, Espírito Santo, Goiás, e aqui no Paraná. Todos analizados e apurrados como “fake news”, ou brinvadeira de “mau gosto” aproveitando que a população está assustada. Mas os ataques bem-sucedidos não avisaram através de mensagens enviadas à lista da escola que eles aconteceriam, pois precisavam do efeito surpresa. Quem avisa quer criar pânico.
Nos quatro dias que se seguiram ao assassinato na Thomazia Montoro, a Polícia Civil registrou 279 ameaças ou suspeitas de possíveis planos de novos atentados. Para efeito de comparação: de 1º de janeiro até 26 de março, haviam sido registradas 82 ameaças. A imensa maioria era de mentiras toscas. Tudo isso reforça a necessidade de discutir a origem desse medo de estudantes, das famílias, dos professores, da sociedade. Não apenas como chegamos até o momento em que a escola, a base da socialização de crianças e jovens, passou a ser encarada como um local de risco, mas como poderemos enfrentar esse medo, entendendo as causas e buscando saídas.
O que inclui discutir a responsabilização das redes sociais por ajudarem a promoção dessa violência sob a justificativa de um entendimento distorcido de liberdade de expressão. E de avançar, urgentemente, na regulação das plataformas. A hora, contudo, é de difundir calma e de impor limites - afinal, não podemos nos tornar reféns de terrorismo.
Vivemos uma crise de boatos, que demanda medidas emergenciais. Ao mesmo tempo que as escolas devem estabelecer diálogos com as suas comunidades, as autoridades precisam tranquilizar a população, explicando que há uma onda de gente má intencionada provocando pânico. E o governo federal tem que acionar a Justiça para que as plataformas sejam obrigadas a tirar material do ar. Isso não é liberdade de expressão, mas promoção da intolerância.
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