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Sabado, 15 de Fevereiro de 2025
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Cresce epidemia de Dengue, e Ibiporã sofre com superlotação nas unidades de saúde

Números oficiais do SESA em março, apontavam 5.430 casos prováveis e 543 confirmados. Hoje podem ser muito mais.

Ely Damasceno
Por Ely Damasceno
Cresce epidemia de Dengue, e Ibiporã sofre com superlotação nas unidades de saúde
Arquivo/Beep Saúde
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      Não há dúvida que Ibiporã deixou de ter um "surto" e evoluiu para epidemia de Dengue.  Profissionais de saúde se desdobram para atender a população que superlota a UPA e as UBSs do município. O Boletim epidemiológico do Ministério da Saúde divulgado em 10 de março de 2023, apontou que os casos de dengue tiveram aumento de quase 600% em um ano, contabilizando-se cerca de 1,5 milhões de pessoas com a doença.  

   Dados do SESA- Secretaria de Estado da Saúde, apontavam que Ibiporã apresentava um quadro há um mês atrás com 5.430 casos prováveis no município sendo, 543 casos confirmados dos 2.480 casos investigados somente no serviço público de saúde. Destes, 1.628 são descartados e outros 589 casos confirmados são autoctones, ou seja de residentes de município vizinho, com casos confirmados aqui. Hoje podem ser muito mais.  Se o tempo não esfriar, e o clima continuar com característica do verão, esse número pode ultrapassar a marca dos 2 milhões até dezembro, como calcula o Centro de Estudos Estratégicos da Fiocruz (CEE-Fiocruz).


    Se chegarmos a este quadro, um aspecto preocupa e chama atenção: “O possível retorno à circulação do sorotipo 2 do vírus da dengue”, observa a Dra. Carolina Sacca Colognesi, diretora do Laboratório de Análises Clínicas, Carlos Chagas, com experiência de 37 anos em serviços de saúde.  “Já há uma geração razoável de pessoas que não estão imunes a esse sorotipo.  Embora a ocorrência desta vertente tenham se concentrado mais em Minas Gerais e São Paulo, o clima é propício para que outros estados possam vir a ter o vírus circulando”, observa a bioquímica cujo laboratório trabalha 24 horas para dar conta dos exames requisitados.   "Estamos trabalhando em turnos dobrados para atender a demanda. Aqui no nosso laboratório, prezamos por entregar a análise dos exames em 1 hora, entendendo a urgência do médico em obter o resultado para seu diagnóstico e assim indicar o tratamento imediato. E não é qualquer laboratório que dá conta disso", disse.  

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    Dra. Carolina Sacca reforça a associação que deve ser feita entre o aumento dos casos de dengue e a existência do mosquito Aedes aegypti, transmissor do vírus da doença. “Precisamos entender que não haverá casos de dengue se não houver o mosquito transmissor”, destaca. As metodologias para enfrentamento do vetor, no entanto, ainda se mostram ineficientes.    Ela dá o exemplo do fumacê, que asperge inseticida em volume baixo pelas cidades, mas que tem como único efeito o de acalmar a população, pela sensação de que “algo está sendo feito”.

   Na prática, é inócuo, afirma a doutora, apontando metodologias mais eficazes, só que ainda em teste, como as armadilhas dispersoras de larvicida para os mosquitos e a vacinação das fêmeas com a bactéria Wolbachia, que bloqueia a transmissão do vírus como explicará nesta reportagem.  Dra. Carolina Sacca, destaca que estas metodologias não substituem a urgência por políticas públicas, como água, saneamento básico cuja ausência impulsiona a proliferação do mosquito. Isso, no seu entender, a nível de Brasil, ainda está longe de acontecer.

A conscientização da população hoje é a arma
   “Ora, o Aedes aegypti se reproduz em todo e qualquer objeto que possa acumular água, independentemente de tamanho, desde uma tampa de uma garrafa PET até uma piscina, e essa é a realidade que o país está enfrentando. Temos quantidades gigantescas de objetos que podem acumular água, que estão acumulando água e que não são protegidos de alguma forma. E a população precisa se conscientizar disso. Que a coisa é séria. Estamos realizando aqui no laboratório mais de cinco mil exames por semana, o que significa que a situação está saindo do controle. Estamos vivendo uma epidemia, em parte pela falta de conscientização da própria população”, destaca.
   A bioquímica de Ibiporã dá um exemplo do que ocorre em municípios onde o saneamento é deficitário. “O abastecimento irregular da água para uso doméstico. Toda vez que falta água em determinada comunidade, quando a água retorna para as torneiras, é natural que aquela população vá armazená-la para usar durante os dias seguintes. Ocorre que, muitas vezes, os recipientes são inadequadamente vedados e terminam por se transformar em focos de proliferação do mosquito. Então, essa explosão no número de casos é resultante de fatores como este”, observa.

O uso do Fumacê no combate ao mosquito
   Para a doutora Carolina Sacca, o combate ao mosquito, com a técnica popularmente conhecida como fumacê é utilizada há décadas, em controle de vetores no país. No entanto, entende que é potencialmente cancerígeno para os seres humanos, além de mostrar-se ineficaz. 
   “O uso do fumacê para matar o mosquito adulto que está voando, método que chamamos de aspersão, com liberação do inseticida tem se mostrado inócuo, insuficiente para resolver o problema durante as epidemias e mesmo antes delas. Primeiro, porque há uma resistência comprovada ao inseticida. Segundo, porque é preciso contar com vários fatores: o mosquito vive essencialmente dentro dos domicílios, e, muitas vezes, os veículos que lançam o fumacê passam nas ruas a uma certa distância, e o jato que aspergem não alcança o interior desses domicílios, que ainda podem estar fechados, ou os quintais.

   Enfim, há uma questão logística que contraria o uso de inseticidas que, no entanto, continuam sendo espalhados no ambiente de forma quase que descontrolada. Ele tem, sim, um efeito psicológico, de acalmar a população e dar a impressão de que o problema da ocorrência da dengue está sendo adequadamente resolvido, o que não é verdade! Em outras palavras, não recomendamos o uso de inseticida, não recomendamos o uso do fumacê, salvo em situações dramáticas, em que possa estar ocorrendo uma epidemia localizada em determinada localidade, como tentativa de se reduzir a população de mosquitos adultos. Mas tem que ser em situações bem avaliadas e excepcionais. O veneno mata insetos nocivos, abelhas e aves. Este método defendido por Osvaldo Cruz há 110 anos perdeu o sentido, porque o espaço urbano do Brasil nesse período tornou-se infinitamente mais complexo”, explica.

Avaliando os avanços das pesquisas contra a doença
   Sempre buscando estar atualizada em relação ao seu trabalho como bioquímica e farmacêutica, doutora Carolina Sacca destaca os estudos recentes. “Há testes bem avançados com outras metodologias. Citarei três delas. Uma seria o uso do mosquito transgênico que, ultimamente, tem ganhado espaço no noticiário nacional. Essa, no entanto, não é uma alternativa sustentável, porque a soltura dos mosquitos tem que se dar frequentemente, em período largo.

   Outra metodologia é a de unidades dispersoras de larvicida, ou seja, armadilhas nas quais é colocado o produto que vai matar a larva do inseto. Os mosquitos, quando vêm beber água ou se alimentar ali, sujam suas patas com o larvicida e ao pousarem em uma outra armadilha onde também tem a água, eles mesmos disseminam esse inseticida. Essa é uma alternativa excelente, sobretudo em comunidades de difícil acesso, seja pela violência, seja por questões geográficas e topográficas. Pesquisadores da Fiocruz estão estudando e apontando resultados muito promissores. É uma metodologia barata, se comparada com as demais.

   Outra alternativa, ainda, que vem sendo avaliada é a do uso da bactéria Wolbachia nas fêmeas do Aedes aegypti. Essa bactéria que já existe na natureza, ou seja, não se trata de um processo geneticamente modificado. Uma vez inoculada no mosquito, a bactéria impede a fêmea de passar adiante o vírus da dengue e também de outras doenças, como chikungunya, zika e febre amarela. Seria como uma vacina. O mosquito é vacinado com a bactéria Wolbachia e perde a capacidade de transmitir as doenças. É uma alternativa altamente autossustentável, como tem mostrado todos os estudos”, resumiu.

   A doutora destaca que "estes exemplos ainda estão em estudo e não se desenvolvem, ainda, em um padrão de produção capaz de dar a resposta a um país inteiro, com as dimensões do Brasil, em curto espaço de tempo. Mas é uma ferramenta altamente promissora. Enfim, tudo é dependente de políticas públicas onde o cidadão é o principal personagem, cuja responsabilidade primordial, está na escolha de seu representante em cargos eletivos. O processo parte daí. 
    Mas como se diz, o que temos para hoje, é dar nossa contribuição, procurar minuciosamente os focos de mosquito dentro de nossas casas, conversar com os vizinhos sobre objetos, de qualquer tamanho, que estejam ao relento e possam acumular água.  Ao indício de sintomas, procurar urgente uma unidade de saúde e submeter-se a exames. De tudo o que disse, uma coisa é certa. A Dengue pode matar!”, finalizou.

FONTE/CRÉDITOS: Folha Portal/Ely Damasceno
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Ely Damasceno

Publicado por:

Ely Damasceno

Bacharel em Teologia Theological University of Massachussets USA 1984/1990. Jornalismo pela Faculdade de Tecnologia de São Paulo. Repórter Gaz.Esportiva, Diários Associados, Estadão/SP, Jornais Dayle Post, em Boston-USA e Int.Press Hyogo-Japão

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