O longo período sem atualização de cadastro de proprietários de jazigos no Cemitério Municipal São Lucas em Ibiporã, pode ter sido um dos fatores que contribuíram para a instalação de uma quadrilha que tinha como "modus operandi", negociar jazigos "aparentemente abandonados", com a participação de servidores municipais, intermediários e uma funerária da cidade. A quadrilha removia cadáveres enterrados para liberar terrenos para a venda. Foram encontradas ossadas depositadas em locais irregulares, até mesmo embaixo do aparelho de controle de ponto dos funcionários do cemitério.
Há exatos 10 anos, não se tem notícia de que a Administração Municipal, por meio da Divisão de Cemitérios, continue fazendo o processo de atualização, pelo menos a cada dois anos dos concessionários de jazigos, evitando assim que tais crimes voltem a acontecer. Basta dar uma volta pelas ruas do cemitério para nos deparamos com dezenas de jazigos em pleno estado de abandono, alguns até com danos na estrutura e sem qualquer identificação por plaquetas. Túmulos nestas condições eram o "prato cheio" da quadrilha. Segundo as investigações, um vereador do município também foi alvo de investigação da PCPR. Conforme apurado, ele teria indicado a terceiros a venda de terrenos no cemitério, por intermédio da fraude.
Daí a importância e necessidade de transparência, convocando assim a cada período, os proprietários de túmulos perpétuos ou seus representantes, até mesmo para cobrar a manutenção devida dos jazigos em estado de abandono. A última data de recadastramento, segundo dados levantados em arquivo, foi 1º de julho de 2016. Nos três anos que se seguiram, a quadrilha comandada pelo ex-servidor em cargo de confiança, e diretor do cemitério Paulo Ribeiro, agia sem levantar suspeitas. Segundo as investigações, o diretor cemitério que estava no cargo há 10 anos, seria o líder da organização criminosa. Quinze veículos, um imóvel e dezenas de equipamentos de academia foram apreendidos mediante ordem judicial. Também foram cumpridos 22 mandados de busca e apreensão em endereços ligados à quadrilha nas cidades de Ibiporã, Londrina e Jataizinho.
O aforamento de documentos, legalizando as vendas ilegais, segundo as investigações também contava com "serviços internos" na própria administração. Resumindo funcionava assim: o funcionário de confiança mandava remover os cadáveres, o subordinado transferia os restos mortais para algum lugar, alguém informava a disponibilidade do túmulo, outro indicava o comprador, a funerária fazia venda, e alguém do alto escalão na administração, esquentava o documento legalizando a venda.
Ainda segundo as investigações da Policia Civil
Os valores exigidos variavam entre R$ 2 mil e R$ 22 mil. O dinheiro era dividido entre o diretor do cemitério e demais investigados, bem como entre outros indivíduos ligados ao líder do grupo criminoso. Além disso, os criminosos ludibriavam famílias que tiveram familiares mortos em acidentes de trânsito e resgatavam de forma integral o dinheiro decorrente do Seguro de Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Via Terrestre (DPVAT).
Um dos integrantes do bando passava-se por advogado, recebia o dinheiro e não repassava para as vítimas. Ele alegava que o valor resgatado teria sido destinado a despesas funerárias, incluindo a compra do terreno. Geralmente, o “advogado” era indicado por representantes das funerárias envolvidas no crime. As investigações da PCPR apontam que para vender os terrenos ilegalmente, o grupo retirava indevidamente as ossadas depositadas no cemitério e na sequência fazia o descarte em locais impróprios. Os investigados estão respondendo pelos crimes de organização criminosa, lavagem de dinheiro, concussão e vilipêndio a cadáver.
Dez anos depois, e a situação no cemitério não mudou muito
Considerando-se que não há por hora, indícios de irregularidades depois dos fatos lamentáveis, e que os responsáveis, em teses, estariam respondendo ações na Justiça, a situação no cemitério em relação ao abandono de jazigos não mudou muito. E o que acontece com os túmulos em estado de abandono? Na época, segundo levantamento eram mais de 150 deles, que não haviam recebido familiares para o recadastramento e continuam abandonados. A quem pertencem estes jazigos? Quem está sepultado lá a fim de que sejam removidos para um ossário devidamente identificados para desapropriação do túmulo?
Não há dúvida que manter as informações atualizadas num banco de dados melhora o serviço de manutenção e garante o controle dos espaços disponíveis no único cemitério municipal de Ibiporã. O Cemitério Municipal de Ibiporã antes de receber obras de melhorias e ampliação possuía cerca de seis mil túmulos e 18.625 sepultados. E hoje, quantos são?
O prefeito José Maria promoveu obras importantes no Cemitério Municipal São Lucas, inclusive na sua ampliação e o mais importante, a reconstrução do muro nos fundos do cemitério resolvendo definitivamente o risco de desabamento. Um novo espaço para escritório e secretaria para atendimento ao público, além de um novo ossário com 110 caixas, 13 jazigos de três lugares cada, e troca do telhado da entrada do cemitério custou o investimentos na ordem aproximada de R$ 1,2 milhão.
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