A Sociedade Esportiva Palmeiras enfim conquistou um título de primeira linha no exterior na tarde do último sábado. O triunfo sobre o Flamengo, alcançado no Estádio Centenário, ainda garante a entrada do clube alviverde no grupo dos brasileiros com três títulos da Copa Libertadores. Campeão das edições de 1999, 2020 e 2021 do torneio continental, o Palmeiras é o quarto clube do futebol brasileiro a reunir três conquistas. São Paulo (1992, 1993 e 2005), Santos (1962, 1963 e 2011) e Grêmio (1983, 1995 e 2017) completam o seleto grupo.
O título conquistado no Centenário marca ainda a primeira conquista relevante do Palmeiras no exterior. O clube alviverde perdeu a final da Libertadores 1968 para o Estudiantes de la Plata no mesmo estádio e a decisão do Mundial Interclubes 1999 para o Manchester United em Tóquio. Até então, o Palmeiras havia garantido todos os seus títulos internacionais em território brasileiro. O antigo Estádio Palestra Itália sediou as finais da Copa Mercosul 1998 (Cruzeiro) e da Libertadores 1999 (Deportivo Cali). Já o Maracanã foi palco da Copa Rio 1951 (Juventus) e da Libertadores 2020 (Santos).
Gol de Rafael Veiga após cruzamento na linha de fundo (Foto: Eitan Abromovich)
Contra o Flamengo, o Palmeiras disputou sua sexta final do torneio continental, já que também perdeu os títulos de 1961 e 2000 para Peñarol e Boca Juniors, respectivamente. No Brasil, apenas o São Paulo, vice em 1974, 1994 e 2006, chegou ao mesmo número de decisões.
Entre os clubes nacionais, o Palmeiras é o recordista em jogos (209), vitórias (116), vitórias como visitante (44), gols (390) e gols como visitante (156) na história da Copa Libertadores. Ao lado de São Paulo e Grêmio, o time alviverde também lidera em participações (21).
Com a taça do time paulista, o futebol brasileiro diminuiu a vantagem da Argentina no número de conquistas do torneio. Agora, os argentinos seguem com 25 taças contra 21 dos brasileiros.
O Palmeiras agora se junta a Olimpia, Nacional-URU, São Paulo, Santos e Grêmio, todos com três conquistas da Libertadores. O Flamengo teve o seu primeiro vice-campeonato em três finais na história.
Não se pode ganhar tudo, ao mesmo tempo
O Palmeiras mudou de vida a partir de 2015, ainda na gestão Paulo Nobre, com o ex-presidente, e também com o atual, Maurício Galiotte, afirmando que a ideia era ter o clube sempre competitivo e chegando em todas as disputas. Chegar era o objetivo e, no Parque Antarctica, ninguém teve a arrogância de querer ganhar tudo e sempre. "Aqui é Palmeiras", não houve.
O projeto era disputar todos os títulos. Nos últimos seis anos, o Palmeiras não ganhou troféu nenhum, nem em 2017 nem em 2019. Como é praxe no futebol do Brasil, houve mudanças de treinadores, mas não se saiu do prumo. O Palmeiras disputou todos os títulos em todos os anos, desde a volta às glórias, com a Copa do Brasil de 2015.
"Hei, você aí, o Porco já é tri!" cantava-se na rua Turiassu, que virou Palestra Itália, depois da conquista contra o Santos, de Gabigol, dezembro de 2015. No ano seguinte, o troféu do Brasileirão, com Cuca. O Palmeiras não posou de soberano, nem disse que dominaria o futebol dos próximos anos. As declarações da diretoria sempre foram na linha "vamos disputar tudo sempre."
Esta serenidade de quem admitiu o favoritismo do Flamengo e preparou a estratégia, única maneira de vencer. Abel Ferreira mudou o lado de Gustavo Gomez, para fazer a cobertura de Bruno Henrique, montou linha de cinco defensores, com Piquerez de terceiro zagueiro, venceu na única chance que possuía: estratégia. Abel Ferreira foi estudioso.
Entendeu Deyverson em bom momento, pelo gol na terça-feira contra o Atlético, exatamente como Breno Lopes anotou contra o Vasco, também quatro dias antes da final. Abel percebeu que Breno Lopes estava treinando bem, notou que Gabriel Veron pediu passagem antes do jogo contra o Galo, no Mineirão, entendeu o momento de Deyverson, comemorando e comemorado pela torcida no gol contra o Atlético, enquanto Luiz Adriano estava em litígio.
Sensibilidade para entender cada detalhe, cada momento. O Palmeiras é tricampeão, o primeiro bicampeão consecutivo desde o Boca Juniors de 2001. "Este título é nosso", disse o presidente Maurício Galiotte. Contraste com uma frase recente do maior dirigente do Flamengo, dita a este colunista, ao telefone: "O Flamengo sou eu."
Nenhum clube é um só dirigente. Nenhum clube ganhará tudo. Os exemplos de dez anos atrás indica, que times que se pensaram hegemônicos se perderam. O Palmeiras é tricampeão da Libertadores, entre outras coisas, por entender que ganhará e perderá. Será um dos maiores clubes do país. Não o único. O desafio de Leila Pereira é manter Abel Ferreira e também a simplicidade.
O Palmeiras é tricampeão da Libertadores. Um dos maiores clubes do país e do continente. Um de seus méritos é saber ser um dos maiores. Não o único.
FONTE/CRÉDITOS: https://ge.globo.com/blogs