Dados de 2019 do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) mostram que a obesidade avança com força no Brasil. Uma pesquisa conduzida pelo Instituto junto ao Ministério da Saúde revela que 96 milhões de brasileiros estão acima do peso, mais de 60% da população. Desses, quase 23% dos homens estão obesos, contra 30% das mulheres. No mundo, pelo menos 1 bilhão de pessoas apresentam sobrepeso e quase 300 milhões de pessoas estão obesas. Antes considerada uma doença de países industrializados como Reino Unido, Estados Unidos e Canadá, a obesidade está presente hoje em muitos países tidos em desenvolvimento ou mesmo subdesenvolvidos, o que dá a doença contornos de uma verdadeira pandemia.
O que é a obesidade?
A obesidade é o acúmulo excessivo de gordura corpórea, até um nível em que comprometa a saúde, caracterizada por um índice de massa corporal igual ou acima de 30, segundo definição da Organização Mundial da Saúde (OMS). Trata-se de uma doença crônica multifatorial, que acarreta um aumento do risco de complicações para a saúde do paciente, como diabetes, doenças cardiovasculares, osteoartropatias degenerativas, neoplasia.
É uma doença causada, na grande maioria das vezes, pela interação entre fatores ambientais e pela predisposição genética do indivíduo ao acúmulo de gordura no corpo.
É importante romper o terrível estigma social de que a obesidade é culpa do indivíduo. Essa ideia, falsa e preconceituosa, prejudica os pacientes e a relação de confiança necessária entre médico e paciente. |
Diagnóstico da obesidade
Há vários métodos possíveis para diagnosticar a obesidade, começando pela análise do excesso de gordura corpórea do paciente. Fazem parte desses métodos a densitometria (DEXA), a bioimpedância, a medição da água corpórea total usando isótopos marcados, determinação da densidade corpórea por imersão em água, tomografia e ultrassonografia.
Contudo, a forma mais simples, econômica e prática para o diagnóstico da obesidade é a determinação do Índice de Massa Corpórea (IMC), calculado pela seguinte fórmula:
O IMC é o método mais utilizado para o diagnóstico clínico da obesidade no mundo, apesar de apresentar algumas limitações importantes. Sua vantagem é apresentar de forma muito simples o resultado de um cálculo matemático que aponta a correlação entre o risco de doenças associadas à obesidade e mortalidade precoce. Pesquisas na área médica indicam que pacientes com IMC 35 ou maior possuem o dobro risco de morte de pessoas consideradas magras nesta escala. Mulheres obesas acima de 40 anos têm risco 13 vezes maior de morte súbita, por exemplo.
O método IMC é criticado por não conseguir demonstrar se o excesso de peso se deve a acúmulo de gordura ou de massa magra, bem como por não avaliar a distribuição regional de gordura e ser falsamente elevado em situações como anasarca.
Tratamento da obesidade
O primeiro médico que deve ser consultado por um paciente obeso é o endocrinologista. O objetivo principal do tratamento da obesidade é a prevenção e ação sobre complicações decorrentes do excesso de peso, como pressão arterial elevada, alterações nos níveis glicêmicos, apneia do sono, esteatose hepática, entre outras.
A perda de peso corporal, por si só, não é considerada prioridade do tratamento. Na fase em que a perda de peso entra em cena, as metas de velocidade de emagrecimento devem ser alcançáveis e progressivas (5 a 10% do peso inicial). O foco do tratamento, contudo, deve ser mais voltado às mudanças de estilo de vida, composição corporal e diminuição da circunferência da cintura.
É comum que vários pacientes com obesidade não diferenciem mais as sensações fisiológicas de fome e saciedade que controlam a ingestão de alimentos. Essas pessoas comem porque é hora de comer, porque querem, para compensação emocional ou como reflexo habitual. Portanto, a motivação para se alimentar e hábitos alimentares gerais devem ser trabalhadas de modo a reverter esse quadro a longo prazo.
Entre as medidas tomadas para o tratamento da obesidade estão:
- A recuperação das sensações fisiológicas da fome e saciedade através de exercícios práticos.
- O combate à estigmatização física e psicológica do paciente diante do seu quadro, com um trabalho sério e sensível voltado ao bem estar, aceitação da imagem corporal e busca de autoestima e autoconfiança.
- Adaptação nutricional e de comportamento alimentar
- Estabelecimento de uma rotina de atividade física e inatividade
- Controle de estímulos para comer
- Redução do estresse
- Terapia cognitivo-comportamental, aconselhamento ou terapia psicológica
- Tratamento de distúrbios alimentares, ansiedade e depressão
Medicamentos antiobesidade
A terapia medicamentosa antiobesidade pode complementar a terapia que envolve alteração no estilo de vida, mas nunca pode ser usada sozinha. Medicamentos antiobesidade são adequados para:
- Pacientes com IMC> 30 kg / m 2 ou com IMC> 27 kg / m 2 com comorbidades
- Falha em perder peso com o tratamento não farmacológico
- História prévia de falência com tentativa de dieta com restrição calórica é suficiente
No Brasil poucos medicamentos para obesidade estão disponíveis no mercado. Apenas três receberam aprovação para uso clínico no tratamento: orlistat, liraglutide, sibutramina e combinação de bupropiona/naltrexona.
Obesidade e cuidados psicológicos
Um importante papel do médico é trabalhar a estigmatização dos pacientes com obesidade, incentivando essas pessoas, motivando-as e apoiando-as em suas escolhas. A educação do paciente é importante para ajudá-lo a aprender sobre autocuidado e padrões estéticos inalcançáveis presentes na sociedade. Essa abordagem acolhedora e educativa auxilia na melhoria de resultados de saúde, incluindo um aumento de qualidade de vida do paciente em tratamento.
É interessante que o profissional responsável pelo tratamento do paciente obeso envolva uma equipe interdisciplinar durante o processo, composta por médico especialista em obesidade, nutricionista ou nutrólogo, especialista em atividade física, psicólogo, psiquiatra e enfermeira.
Os pacientes podem se beneficiar também da participação em um grupo de autoajuda com outros indivíduos obesos, de modo a compartilharem conquistas, angústias e técnicas de autocuidado.
Como você costuma tratar seus pacientes obesos? Você trabalha com uma abordagem interdisciplinar?
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