A despeito do fato de que todo cardiologista conhece o pericárdio e sabe da importância que a membrana que reveste o coração tem tanto para a mecânica de funcionamento do coração, ele nem sempre recebe a atenção que merece seja em congressos e simpósios, seja na literatura médica.
O nome pericárdio deriva do grego peri = ao redor e cardio= coração e é uma membrana de parede dupla, a mais interna - que mantém contato com o miocárdio - chamada visceral e a mais externa, chamada parietal, separadas, em condições habituais por um filme liquido, formado por 15 a 35 ml de um ultrafiltrado do plasma, de baixa concentração proteíca.
Diferente condições podem comprometer o pericárdio, desde processos infecciosos até tumorais, causando por vezes fibrose ou até calcificação dos folhetos que recobrem o coração o que pode levar ao desenvolvimento de insuficiência cardíaca, por vezes com fração de ejeção preservada, e podem até mesmo despertar a necessidade de tratamento cirúrgico para aliviar sintomas e reduzir a mortalidade.
O derrame pericárdico, que é o aumento patológico do liquido pericárdico, pode prejudicar o funcionamento do coração, particularmente limitando a expansão diastólica e levar a quadros clínicos graves. Derrames pericárdicos são relativamente podem ser consequência de diferentes processos etiológicos, tais como infecções virais e, neste contexto deve ser lembrada em pacientes acometidos por COVID 19. Chamamos a atenção para o fato de que até 5% dos pacientes com COVID 19 apresentam derrame pericárdico e muitos estudos apontam o fato de que não há particular virais nas análises do liquido puncionado. Existem porém, relatos de caso em que foram encontradas partículas virais em punções pericárdicas, sugerindo que mais de um mecanismo de agressão do pericárdio possa estar envolvido nestes casos. Além disso, diferentes estudiosos destacam o fato de que nem sempre há associação entre miocardite e pericardite nos casos de infecção por SARS-Cov2, enquanto que relatos de caso de ressonância magnética no acompanhamento deste grupo de pacientes sugerem que possa haver processo inflamatório subagudo e crônico que passaram despercebidos durante a internação hospitalar.
Tais achados deixam clara a necessidade de se buscar de modo ativo este tipo de complicação, pois caso não sejam tratadas de modo correto, o comprometimento pericárdico pode complicar e tornar ainda mais desfavorável o prognóstico de pacientes com COVID-19. Na dúvida, consulte sempre o seu cardiologista!
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